Novas Fusões Priorizam Sobrevivência de Empresas, Dizem Consultores
Apesar de grandes negócios, número de transações diminui no país.
A crise financeira, que causou a quebra de bancos, fez empresas passarem do lucro ao prejuízo e derrubou a expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 2009, teve também efeitos visíveis no mercado de fusões e aquisições do Brasil.
Nos seis meses desde o agravamento da turbulência internacional – cujo início foi marcado pela falência do banco americano Lehman Brothers, em setembro do ano passado –, o número de negócios caiu, mas um novo padrão de fusões e aquisições foi estabelecido: mega-acordos que priorizam a sobrevivência de grandes negócios.
VEJA AS MAIORES FUSÕES E AQUISIÇÕES DO PAÍS NOS ÚLTIMOS ANOS
Empresas Envolvidas | Ano | Valor R$ bi |
Itaú e Unibanco (fusão) | 2009 | 106,92 |
AmBev e Interbrew (fusão) | 2004 | 87,04 |
Vale (compradora) e Inco | 2006 | 35,82 |
BM&F e Bovespa (fusão) | 2008 | 34,57 |
Santander (comprador) e Banco Real | 2007 | 30,49 |
Gerdau (compradora) e Chaparral Steel Company | 2007 | 8,51 |
Consórcio Big Jump Energy (comprador) e Namisa | 2008 | 7,20 |
Submarino e Americanas.com (fusão) | 2006 | 7,05 |
Quattor Participações (fusão de ativos da Unipar e Petrobras) | 2008 | 6,81 |
Oi (compradora) e Brasil Telecom Participações | 2009 | 6,37 |
Segundo consultores entrevistados pelo G1, três grandes fusões anunciadas nos últimos meses podem ser creditadas à necessidade de sobrevivência em um mercado em crise: VCP-Aracruz, Perdigão-Sadia e, indiretamente, Itaú-Unibanco.
Para especialistas, as uniões de VCP-Aracruz e da Sadia-Perdigão foram consequência das dificuldades financeiras de uma das partes envolvidas no negócio. No ano passado, tanto a Aracruz quanto a Sadia tiveram grandes perdas com operações de câmbio que apostavam na manutenção da baixa do dólar no país.
O resultado dessas operações fez com que a Aracruz registrasse prejuízo de R$ 4,1 bilhões no ano passado. A Sadia perdeu quase R$ 2,5 bilhões, registrando o primeiro resultado negativo de seus mais de 60 anos de história.
Para o coordenador do Núcleo de Estratégia e Gestão Empresarial da Fundação Dom Cabral, Aldemir Drummond, a crise pode favorecer negócios ao criar “alvos fáceis” para as concorrentes.
“(É o caso de) empresas que tomaram tombos, como a Sadia (e) a Aracruz, que fizeram operações financeiras que deram errado.”
“A Sadia vinha namorando com a Perdigão, queria comprar fazia tempo, e acabou sendo obrigada a se juntar a ela. A Aracruz foi vítima do mesmo problema”, afirma o especialista em fusões e aquisições Marco Aurélio Militelli, da Militelli Business Consulting.
Para ele, essas duas fusões se deram por “motivos não-ortodoxos”, ou seja, a união ocorreu pela força das circunstâncias.
Para Nicholas Barbarisi, sócio e diretor de operações da Hera Investment, a fusão de Itaú-Unibanco, iniciada no ano passado, também foi acelerada pela crise, que colocou pressão sobre o setor bancário.
O consenso do mercado é que, com a desconfiança em nível máximo, os bancos precisavam mostrar que podiam se manter firmes durante a turbulência financeira.
Quantidade de negócios
Se a crise proporcionou grandes fusões e aquisições, também trouxe uma redução de 29,2% do número de negócios no primeiro trimestre de 2009, em relação a janeiro a março do ano passado – segundo a KPMG, a quantidade de transações caiu de 140 para 99.
De acordo com Luís Motta, sócio na área de assessoria em fusões e aquisições da KPMG, em termos quantitativos, a crise afetou o setor. No ano passado, com a freada brusca do mercado no quarto trimestre, o número de negócios ficou em 663, abaixo dos 699 registrados em 2007.
Para Motta, o resultado tende a melhorar ao longo de 2009. “Não tenho fatos para dar, mas o número de discussões e consultas que a gente tem a respeito disso aumentou aqui na KPMG. (...) Pouco a pouco vai despertando um movimento, mas (ele se intensificará) no terceiro e no quarto trimestres”, ressalta.
Resultado positivo
Apesar dos percalços, Drummond diz que as fusões e aquisições têm sido importantes para a internacionalização das empresas brasileiras e para sua sobrevivência dentro do país. Segundo ele, os dez últimos anos foram um período em que o Brasil passou por uma “até bem sucedida” integração com a economia internacional.
Para o sócio da Hera Investimentos, a formação da Ambev, em 1999, pode ser considerada um marco do processo de união de empresas no país, não só por ter nascido a partir de duas marcas famosas (Brahma e Antarctica), mas pela proporção que tomou posteriormente, com a associação com a belga Interbrew e a compra da americana Anheuser-Busch, dona da marca Budweiser.
“Isso significa (...) empresas estrangeiras querendo fazer comércio e uma inserção maior também de brasileiras no exterior. E quando você tem uma competição num nível maior, a empresa precisa de maior porte para fazer isso. E no caso da competição interna, se (as empresas) não se fundissem, seriam provavelmente compradas por estrangeiras, como aconteceu muito no setor de autopeças”, diz Drummond, da Fundação Dom Cabral.
Tendência
A união de empresas, de acordo com o especialista Marco Aurélio Militelli, continuará a ser uma tendência no mercado brasileiro porque é uma forma de as empresas melhorarem sua posição no mercado ganhando poder de compra e de barganha em qualquer nível.
A tendência das megafusões chega no Brasil com certo atraso, em comparação aos países desenvolvidos, segundo o consultor.
"O Brasil foi inclusive um dos últimos mercados a ter o movimento de megafusão. (...) O mercado amadureceu e estava realmente com esse tipo de necessidade."
Fonte: G1.
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