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sexta-feira, 22 de março de 2013

Balanços Mostram Lenta Recuperação das Empresas



As empresas de capital aberto mantiveram, no quarto trimestre, a tendência de recuperação vista nos meses anteriores, com crescimento das vendas, dos resultados operacionais e dos lucros. Embora o cenário macroeconômico ainda seja uma barreira para um crescimento mais forte, o pessimismo dos analistas de investimentos parece ceder lugar à expectativa de um ano um pouco melhor em 2013.

Números compilados pelo Valor Data, com base nos dados da consultoria Economática de demonstrações contábeis de 133 empresas, mostram que a receita é a maior em dois anos, mas cresceu em proporção semelhante aos custos - ou seja, eles também são os maiores da amostra. A chamada margem bruta - o que sobra das receitas depois de descontados os custos - foi de 28,3% no quarto trimestre, abaixo dos 28,9% do mesmo período do ano anterior.

Na análise dos dados, o Valor optou pela amostra que exclui Petrobras e Vale (os números com e sem os dois balanços estão na tabela desta página), já que o tamanho desproporcional das duas empresas distorce o resultado geral.

Nos três meses encerrados em dezembro, sem Petrobras e Vale, a receita de vendas e serviços avançou 8,6% na comparação com julho a setembro e 18,6% sobre igual período do exercício anterior, para R$ 207 bilhões.

Os custos com produtos e serviços (que, grosso modo, inclui matérias-primas, insumos e mão de obra no chão de fábrica) avançaram 8,7% e 19,6%, respectivamente, para R$ 148,41 bilhões. O lucro líquido subiu 25,7% sobre três meses antes e 31,4% anualmente e somou R$ 16,22 bilhões.

Quando Petrobras e Vale entram na conta, o lucro líquido cai 29% em bases anuais, para R$ 18,34 bilhões, e a receita sobe 16,5%, para R$ 309,15 bilhões. Os custos avançam 22,2%.

"A percepção é que os negócios permaneceram rentáveis", dizem os analistas Bruno Piagentini e Marco Aurélio Barbosa, da Coinvalores, mas a recuperação ainda é "incipiente".

A eficiência, medida pela relação entre receita de vendas e lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) aumentou para 20% no quarto trimestre, após manter-se em 18,7% nos quatro trimestre anteriores, o que mostra uma contenção das despesas operacionais com vendas, gerais e administrativas - gastos com publicidade e salários de executivos, por exemplo, entram nessa conta.

Mas a grande preocupação é com os custos. Algumas empresas conseguiram repassar os aumentos aos clientes apenas neste início de ano, como as produtoras de papel Klabin e Suzano, as siderúrgicas Usiminas e CSN, e a Petrobras, que reajustou o preço do diesel por duas vezes desde janeiro.

Entre os grupos que se empenharam em diminuir custos, mas ainda preocupam, estão as produtoras de papel e celulose, a Vale e a siderúrgica Usiminas. Na contramão, as empresas de saúde tiveram um crescimento relativamente baixo, "com um aumento da receita em linha com a inflação, enquanto os custos a superaram", nota o analista Guilherme Assis, da Brasil Plural Corretora.

Na Petrobras, os custos continuam em alta. A esperança é que os repasses de preço diminuam uma parte da defasagem sobre os preços internacionais, pelos quais a companhia compra combustíveis no exterior. No quarto trimestre, os custos com vendas da estatal subiram 18,5%, para R$ 56,8 bilhões, o que, para se ter ideia da grandeza, representou um terço do faturamento de todas as empresas da amostra. A receita não subiu na mesma proporção, o que reduziu em quatro pontos percentuais a margem bruta para 23%.

Estoques deram um sinal positivo aos investidores, com queda após nove meses de crescimento

Os estoques, no entanto, deram um sinal positivo aos investidores. Após nove meses de crescimento, as empresas conseguiram reduzir a linha do balanço para R$ 77,65 bilhões entre outubro e dezembro. Segundo os analistas da Coinvalores, a queda refletiu os ajustes de produção e a estabilização da demanda.

A situação mais saudável deu fôlego para o repasse de preços. Foi o caso da Usiminas, que reduziu os estoques para R$ 3,78 bilhões no trimestre, em 95 mil toneladas de aço, e em 482 mil toneladas em 2012. "Foi uma desestocagem intensa de aço fabricado em 2011, com custos mais elevados, que sacrificou margens da empresa, porém reforçou seu caixa", disse a companhia em nota que acompanha o balanço.

A Sondagem Industrial da Confederação Nacional da Industria (CNI) apontava em novembro a baixa dos estoques para um nível próximo ao planejado, de 50,5 pontos. O indicador não se situava neste patamar desde abril de 2011.

Os setores com mais facilidade para o repasse de preços, como as empresas de alimentos e bebidas, cujos produtos são de consumo essencial, e concessões e shoppings centers, com receita indexada à inflação, mostraram bons resultados, diz Leonardo Milane, estrategista do banco Santander.

No acumulado de 2012, a receita líquida atingiu R$ 1,115 trilhão, alta de 32,6% em bases anuais, e o lucro alcançou R$ 81,38 bilhões, 30,7% inferior a 2011. Sem Petrobras e Vale, a receita subiria 36%, para R$ 740,17 bilhões, e a última linha do balanço recuaria 4,3%, para R$ 51,87 bilhões.

Os números de 2012 não foram tão fortes quanto o desejado, mas os balanços sinalizam o bom desempenho em 2013. O início do ano pode continuar morno, na opinião de analistas, mas o crescimento é certo no segundo semestre até para os setores com mais dificuldades.

"O mercado tem olhado para 2013 com perspectivas positivas, sem se preocupar com aspectos pontuais do quarto trimestre", afirmam Piagentini e Barbosa, da Coinvalores.

No segmento de siderurgia, existe uma recuperação nos preços do aço que pode trazer melhoras operacionais. A Vale é muito dependente do preço do minério de ferro, mas o enfoque em eficiência é o que mais vai importar, diz a analista Juliana Chu, da Votorantim Corretora.

Em consumo, o ritmo de abertura de lojas tende a continuar forte neste ano, indicando a manutenção da perspectiva de crescimento, diz Luiz Cesta, do banco Votorantim.

Em logística, que teve bom desempenho em 2012, na opinião do analista Gabriel de Gaetano, da Fator Corretora, as novas licitações de concessões que acontecem neste ano podem trazer otimismo.

Fonte: Valor Econômico.

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