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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Crise no Mercado de Capitais? Isso me Lembra a MERPOSA


Nos últimos meses, especialmente janeiro/2014, tem aterrorizado companhias e investidores que compõem o mercado brasileiro de capitais. Marcado por grandes desvalorizações das companhias e fuga de capital, principalmente o estrangeiro, pode-se observar o quanto o investidor tende a seguir o movimento das massas, no chamado "efeito manada". Isso me fez lembrar do emblemático caso MERPOSA, hipotética empresas Merda em Pó S.A., que surgiu nos anos 1970 no Brasil. Por isso, resolvi postar esse texto publicado a alguns anos no Fórum BRSM.


Texto extraído do Fórum BRSM: 


O ano de 2006 foi recorde em termos tanto do número de ofertas quanto do valor agregado de lançamento de ações, totalizando mais de R$ 15 bilhões. Lendo o livro recém lançado, “Mercado de Capitais: Uma trajetória de 50 anos”, de Roberto Teixeira da Costa, o autor nos lembra do episódio da MERPOSA ocorrido às vésperas da grande crise do mercado ocorrida em 1971 [auge do primeiro grande movimento altista da bolsa de valores no país]. 

“...Todos acreditavam que podiam ficar ricos investindo em ações, ou seja, foram vendidas propriedades, bens de família, tomados empréstimos, transformando todo o patrimônio em ações. Foi um período de grande retrocesso no desenvolvimento do mercado de capitais. A procura pôr lançamentos era simplesmente assustadora e até recibos de subscrição eram negociados em bolsa ou balcão. Também havia a combinação de incentivos dos artigos 14/34. Quem não se lembra de nomes como MERPOSA . 

MERPOSA (M.....em Pó S.A.) foi uma brincadeira que correu no mercado em 1970, onde circulou pelas mesas de operação que estava à caminho um lançamento “quente” de ações de “uma tal de” MERPOSA. No meio daquela febre de lançamento de ações, o papel fictício da tal MERPOSA (que até o final do prazo de reserva ninguém sabia o que queria dizer....) foi oversubscribed. Isso dá uma idéia do quão real pode ser a “loucura das multidões”. 

Não que estejamos vendo analogia entre o mercado atual e o daquela época. O mercado evoluiu muito, as instituições também, mas, como mencionamos anteriormente, há evidentemente uma séria distorção nos preços praticados nas aberturas de capital, através de lançamento de ações nos mercados primário e secundário. 

Os detentores de ações de commodities como Vale e Petrobrás se escoram em cima dos múltiplos elevados das ofertas de ações que estão sendo realizadas e acreditam que estão posicionados em papéis seguros, defensivos, por conta dos múltiplos baixos. Só que nesse caso o que está inflado é o “L” (profit bubble) do índice “P/L” [relação entre o preço da ação em bolsa e o lucro pôr ação da empresa aberta] - não é o múltiplo que está baixo. Os fluxos de investimento dos últimos quatro anos têm sido primordialmente direcionados para commodity-related assets. Aí é que está a outra bolha... 

Nietzche dizia que o homem é um “ser de rebanho” e para se individualizar era necessário um trabalho de “super-herói”. A “aderência” a um grupo, o “pertencimento”, é algo que os homens buscam desde sempre. Concordar com a maioria do mercado (e, mais recentemente, quase que com a totalidade dele) é sempre muito mais confortável, mas nós preferimos uma posição mais solitária. 

Depois de um longo período de forte valorização nas bolsas, não é incomum encontrarmos pessoas que ganharam muito mais dinheiro no mercado de ações do que trabalhando, e até desaceleraram ou pensam em reduzir seu ritmo de trabalho em função disso. As pessoas parecem ter elaborado uma espécie de “contabilidade psíquica ou virtual” onde registram os ganhos futuros com suas carteiras de ações e os prováveis destinos dos recursos. 

Extrapolaram para o longo prazo os ganhos do passado recente e programaram aposentadorias antecipadas, compras de imóveis, carros, viagens ao exterior, educação dos filhos e pôr aí vai. Não raramente esses planos são divididos com a família e a contabilidade psíquica/virtual passa a “ancorar” os projetos do casal ou da família. 

A partir desse momento, a flexibilidade e a agilidade para a tomada de decisão de vender uma ação ficam totalmente comprometidas, pois a pessoa não estará vendendo apenas a ação de uma companhia, mas, sim, um projeto de vida pessoal e muitas vezes familiar. E todos nós sabemos o quanto é difícil abrir mão de nossos planos. Mas é assim que funciona. 

Contribui para a lista de justificativas para a assunção de riscos a queda da taxa Selic, que tem remunerado muito pouco os fundos DI. Parece não valer à pena ficar com o dinheiro “parado”. Isso autoriza o inconsciente a tomar mais riscos. 

Nós acreditamos que existem alternativas de investimento superiores à renda fixa, vide a composição de nossa carteira. Mas, “consciente das armadilhas do inconsciente”, o gestor independente atento ao forte componente psicológico dos mercados não utiliza essa justificativa (juro baixo) para tomar riscos e, sim, para adotar uma postura defensiva, uma vez que ele vê o mercado num estado de euforia pouco convencional. 

Quando o “inconsciente coletivo” (Carl Jung) assume o posto de investidor o resultado só pode ser desastroso. Nessas circunstâncias, comprar ações da MERPOSA parece ser uma atitude racional. 

Fonte: Aqui.

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