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terça-feira, 29 de julho de 2014

As Bolhas Vão Dominar o Mundo?


Na Espanha, onde a crise da dívida estourou há apenas dois anos, os investidores estão tão animados para comprar títulos da dívida nacional que recentemente aceitaram as taxas de juros mais baixas desde 1789.

Em Nova York, uma torre de escritórios em estilo art déco na One Wall Street foi vendida em maio por US$ 585 milhões, apenas três meses depois o consenso no setor imobiliário apontar que o valor máximo seria de cerca de US$ 466 milhões, segundo estimativa.

Na França, a empresa de TV a cabo Numericable conseguiu obter um empréstimo recente de US$ 11 bilhões, o maior acordo de venda de títulos podres da história – e apesar do risco geralmente associado aos títulos podres, a taxa de juros foi de apenas 4,875%.

Seja bem vindo ao Boom de Todas as Coisas — e, possivelmente, à Bolha de Tudo. Em todo o mundo, quase todas as classes de ativos atingiram recordes de preço de acordo com padrões históricos. Ações e títulos, mercados emergentes e economias avançadas, torres de escritórios nas cidades grandes e terras agrícolas nos Estados Unidos. E a contrapartida são lucros relativamente baixos para investidores. [1]

O fenômeno tem suas origens em duas forças inter-relacionadas. Em todo o planeta, existe mais dinheiro entrando nas poupanças do que as empresas acreditam que possam usar para fazer investimentos produtivos. Ao mesmo tempo, os maiores bancos centrais do mundo estão há seis anos em uma campanha para baixar os juros e criar mais dinheiro sem lastro, na tentativa de estimular um crescimento mais estável após a passagem da crise internacional.

"Estamos em um mundo onde há pouquíssimos ativos genuinamente baratos", afirmou Russ Koesterich,  estrategista-chefe de investimento da BlackRock, uma das maiores gestoras de ativos do mundo, que passa seus dias procurando ativos com os quais os investidores possam conseguir melhores retornos em relação aos riscos que estão correndo. "Se você me pedir para apontar uma grande barganha por aí, não saberia dizer se ainda resta alguma".

Por mais frustrante que essa situação seja para os investidores, a maior questão para a economia global é o que vai acontecer de agora em diante. Por quanto tempo esse ambiente de baixos lucros deve durar? E quais são os riscos que estão sendo criados e que podem se materializar caso o Boom de Todas as Coisas chegue ao fim?

Ativos seguros, como títulos da dívida dos EUA, têm oferecido retornos insatisfatórios para os investidores há anos, desde a crise financeira global. O que mudou nos últimos dois anos é que os ativos de risco – como ações, títulos podres, imóveis e títulos da dívida de mercados emergentes – também começaram a oferecer retornos mais baixos.

Quer comprar ações de empresas norte-americanas? Nos níveis atuais do índice Standard & Poor's 500, cada dólar investido em ações compra 5,5 centavos de faturamentos corporativos, em vez dos 7,4 centavos de dois anos atrás – e ainda menos do que antes da crise mundial de 2007-2008.

Você prefere um ativo mais sólido? O preço de prédios de apartamento cresce de maneira similar; prédios de escritório em bairros comerciais centrais dos Estados Unidos custam em média US$ 1 mil por metro quadrado, em vez de US$ 485 no início de 2010, de acordo com a Real Capital Analytics. Em Manhattan, alguém que invista em um prédio de escritórios pode esperar que os aluguéis rendam 4,4% sem as despesas, um valor conhecido como índice de capitalização e que estão mais baixos do que os de 2007, no auge do último boom.

A Espanha e outros países do sul da Europa – que foram o centro da crise da dívida – não foram os únicos locais onde as taxas de juros dos títulos da dívida caíram drasticamente (até mesmo a Grécia foi capaz de obter taxas mais favoráveis no início deste ano). Mercados emergentes, que geralmente oferecem taxas de juros mais altas por conta de níveis mais altos de inflação e menor estabilidade política, também estão oferecendo juros baixíssimos no momento. Os títulos emitidos pelos governos do Brasil e da Malásia, por exemplo, estão dando retornos de apenas 4%.

As grandes valorizações já não são mais tão extremas quanto a das ações no ano 2000, ou das casas em 2006; em vez disso, a novidade é que isso se aplica a inúmeras classes de ativos. No ano 2000, quando o mercado de ações era, em retrospectiva, uma bolha especulativa, outros ativos como títulos, investimentos em mercados emergentes e imóveis pareciam um bom negócio.

O medo dos riscos econômicos

O Boom de Todas as Coisas traz riscos econômicos óbvios. O resultado mais positivo seria acelerar o crescimento econômico global, fazendo os ativos caros de hoje parecerem mais razoáveis no futuro. Porém, outros resultados também são possíveis, incluindo quebras em mercados que poderiam criar novos problemas na economia global, que ainda não se recuperou totalmente da última crise.

Existem duas razões principais por trás desse ambiente de lucros baixos, embora as pessoas possam se perguntar qual é a causa e qual é a consequência.

Os bancos centrais de diversos países promovem uma campanha sem precedentes para tentar estimular o crescimento por meio de taxas de juros mais baixas e da compra de ativos com dinheiro recém-criado. Nos Estados Unidos, se o Banco Central mantiver sua taxa de juros de curto prazo próxima a zero até o ano que vem, conforme esperam muitas autoridades, ele terá mantido a política de juro zero por sete anos.

O Banco Central dos EUA possuía US$ 900 bilhões em ativos em agosto de 2008; agora, esse número chega a US$ 4,4 trilhões. Os bancos centrais da Inglaterra, do Japão e da zona do euro adotaram políticas similares.

Segundo um ponto de vista generalizado nos mercados de capitais, os lucros baixos são um subproduto dessas taxas de juros tão baixas. Os bancos centrais tiraram trilhões de dólares que poderiam ser utilizados no investimento global e os investidores tentam conseguir o que resta.

"As taxas de juros estão baixíssimas", afirma Peter J. Clare, diretor-executivo e um dos chefes do grupo de compra de ações na empresa de private equity Carlyle Group. "Existem poucos outros lugares atraentes onde os investidores podem colocar seu dinheiro, por isso investem em mercados de private equity. Trata-se das equações de oferta e demanda mais simples: Quando há mais demanda, os preços sobem e a valorização chega ao ponto que chegou".

Porém, embora os bancos centrais sejam capazes de ditar as taxas de juros de curto prazo, no longo prazo elas refletem um preço que se adequa aos poupadores que desejam obter algum retorno sobre seu dinheiro, além de empresas e governos que desejam investir suas poupanças – seja em novas fábricas, em prédios de escritório ou em infraestrutura.

De certa forma, o alto valor dos títulos globais também pode ser o resultado de um mundo no qual há um volume grande demais de dinheiro poupado, em relação ao desejo ou à capacidade das empresas e das pessoas de investir esse dinheiro de forma produtiva. Isso reafirma o fenômeno que o ex-diretor do Banco Central dos EUA, Ben Bernanke (entre outros), descreveu há uma década como "o excesso das poupanças globais".

Mas talvez essa também não seja a melhor forma de ver o caso. E se o problema não for tanto a poupança, mas a falta de boas oportunidades de investimento onde colocar esse dinheiro? Por exemplo, as empresas podem sentir que os gastos de capital são ruins porque não oferecem bons retornos.

O próprio Bernanke tem dificuldades com a possibilidade de que a noção do excesso global de poupanças tenha confundido causa e efeito.

"Posso ter cometido um erro ao tentar dar um nome a esse fenômeno", afirmou Bernanke, atualmente na Brookings Institution, em uma entrevista. "Um excesso é sempre mais que o desejado. Entretanto, isso talvez não esteja acontecendo porque as pessoas querem poupar mais dinheiro, mas porque elas estão investindo cada vez menos".

"É perfeitamente possível que ao observarmos o mundo, veremos economias que crescem lentamente, que a China está evitando os investimentos de capital, e que os lucros vão continuar a ser baixos".

Se essa análise estiver correta, os investidores estão diante de uma escolha infeliz: aceitar retornos mais baixos que a média histórica, ou buscar investimentos ainda mais obscuros e que oferecem um ou dois pontos percentuais a mais de lucro.

Comentário:

[1] No Brasil também é possível observar esse fenômeno no mercado imobiliário. Especialistas já apontam a existência de uma bolha. Percebe-se pelo preço de imóveis, tando em centros financeiros, como São Paulo, até em cidade pequenas do interior do Norte do país.

Fonte: IG Economia.

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