A História de Uso de Informação Privilegiada no Caso Sadia-Perdigão
Dois ex-executivos da Sadia e um do ABN-Amro foram acusados de usar informações privilegiadas (insider trading) relativas à oferta da Sadia pelo controle acionário da concorrente Perdigão, em 2006, para lucrar no mercado financeiro. A união não deu certo na época e só se concretizou em 2009, quando foi a Perdigão quem comprou a Sadia, criando o conglomerado Brasil Foods.
Luiz Gonzaga Murat Júnior, que era diretor de Finanças e Relações com Investidores da Sadia; Romano Ancelmo Fontana Filho (sobrinho do fundador, Attilio Fontana), que era membro do Conselho de Administração da empresa; e Alexandre Ponzio de Azevedo, que era superintendente executivo de empréstimos estruturados do ABN-Amro, foram demitidos de seus cargos em virtude do caso.
A oferta da Sadia pela Perdigão ocorreu em 16 de julho de 2006, e o edital foi publicado no dia seguinte. Antes disso, Murat, Azevedo e Fontana Filho participaram das discussões e tratativas visando à elaboração da oferta ao mercado e obtiveram informações privilegiadas.
No dia 7 de abril de 2006, quando a proposta foi aprovada pelo conselho da Sadia, Murat fez a primeira compra de ações da Perdigão na bolsa de Nova York, adquirindo 15.300 ADRs (american depositary receipts) a US$ 23,07 cada. Em junho, sabedor da proximidade do anúncio do negócio, o executivo comprou mais 30.600 ADRs, elevando sua carteira para 45.900 ações, a US$ 19,17 cada papel. Cada compra ocorreu mediante informações privilegiadas que obteve sobre os andamentos da oferta da Sadia pela Perdigão, incorrendo duas vezes no crime de insider trading.
Fontana Filho incorreu quatro vezes no crime de insider trading, pois efetuou quatro operações de compra e venda mediante informações privilegiadas, antes da formalização da oferta oficial. O executivo comprou três lotes da Perdigão, totalizando 18.000 ações, na Bolsa de Nova York, por US$ 344.100, entre 5 e 12 de julho, poucos dias antes do anúncio da oferta. Ele vendeu todas as ações em 21 de julho de 2006, mesmo dia da recusa da Perdigão, mas antes que a informação chegasse ao mercado, por US$ 483.215,40, lucrando US$ 139.114,50.
Azevedo, assim que soube que a matriz do ABN-Amro, na Holanda, avalizaria a oferta da Sadia pela Perdigão, adquiriu 14.000 ações da Perdigão na bolsa de Nova York em 20 de junho de 2006, por US$ 269.919,95 (US$ 19,27, cada), incorrendo uma vez no crime de insider trading. Em 17 de julho de 2006, após a publicação do edital da oferta, o executivo do banco vendeu 10.500 ações por US$ 254.046,90, lucrando US$ 51.606,00.
Nos EUA, Murat e Azevedo fizeram um acordo com a SEC para não serem processados criminalmente e receberam sanção administrativa em fevereiro de 2007, sendo proibidos de atuar no mercado financeiro por três anos.
União das empresas
Várias vezes, Sadia e Perdigão estiveram perto de se unir. Em 2001, formaram uma empresa comum, a BRF Trading, mas os resultados decepcionaram e, no fim de 2002, a parceria foi desfeita. Em 2006, a Sadia fez uma oferta hostil (diretamente aos acionistas, sem passar pela negociação com a diretoria) pela concorrente, sem sucesso, que acabou dando origem a essa investigação sobre informação privilegiada.
Concorrentes históricas, Sadia e Perdigão nasceram em Santa Catarina. A primeira, em junho de 1944, em Concórdia. O nome é a soma da sigla S.A. com a última sílaba de Concórdia. Fundada em 1934 pelas famílias Brandalise e Ponzoni, em Videira, a Perdigão quase quebrou em 1994. Naquele ano, Weg e fundos de pensão assumiram o controle, e a empresa voltou-se a aquisições. Quando foi comprada pela Perdigão, a Sadia enfrenta sua pior fase. Teve prejuízo de R$ 2,5 bilhões em 2008, devido a perdas de R$ 2,6 bilhões com derivativos. Isso levou à renúncia de Walter Fontana Filho do Conselho e à demissão do diretor financeiro.
Fonte: Yahoo! Notícias.
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