Braskem compra Quattor e Se Torna Oitava Maior Petroquímica do Mundo
O baiano Bernardo Gradin, presidente da petroquímica Braskem, passou os últimos seis meses imerso em reuniões que atravessaram madrugadas e invadiram fins de semana. Na pauta das discussões estava a compra da rival Quattor, controlada pelo grupo Unipar. No final de janeiro, com a ajuda de dezenas de pessoas, entre executivos da Braskem, advogados e consultores, Gradin finalmente conseguiu fechar a aquisição da concorrente - um negócio que movimentou 3,5 bilhões de reais e transformou a Braskem na oitava maior petroquímica do mundo, com receitas de 26 bilhões de reais. Mesmo depois de finalmente colocar sua assinatura no contrato de compra, tornando-se o comandante da nova superpetro, Gradin não teve tempo para comemorar. "Nos últimos tempos, a palavra tranquilidade deixou de fazer parte de meu vocabulário", diz. Para ele, a verdadeira prova de resistência começa agora. Nos próximos quatro meses, Odebrecht e Petrobras, que já eram sócias na Braskem. desde sua criação, em 2002, terão de acertar vários detalhes do novo acordo de acionistas, da divisão de poder na empresa à política de investimentos. "Os próximos meses serão fundamentais para o futuro da Braskem. Só depois dessas definições ficará claro se a empresa terá mesmo condições de ser uma das cinco maiores do mundo, como pretende", diz Nelson Rodrigues Matos, analista de petroquímica do Banco do Brasil.
Aos 45 anos de idade, 23 deles passados em empresas do próprio grupo Odebrecht, Gradin é conhecido no mercado por ser disciplinado e inflexível nas negociações, do tipo que não deixa espaço para o improviso nem recorre a argumentos emocionais. "Ele demonstra conhecer muito bem os números e deixa claro seus limites. É duro, mas transparente. Você sempre sabe aonde ele quer chegar", diz um executivo que já se sentou à mesa de negociação com Gradin. Filho de Victor Gradin, sócio minoritário do grupo Odebrecht, ele é um fiel seguidor da chamada TEO (sigla para Tecnologia Empresarial Odebrecht), doutrina corporativa expressa em quatro livros escritos pelo fundador do grupo, Norberto Odebrecht, a partir dos anos 60. Os textos, utilizados na formação dos líderes do grupo baiano, destacam a importância de trabalhar em equipe, delegar funções e buscar novas oportunidades de negócios. Daqui para a frente, porém, Gradin vai precisar demonstrar que carrega no DNA uma característica que não se aprende em cartilhas: a habilidade de conciliar interesses sem ferir suscetibilidades políticas. "Agora é que será testado seu poder de liderança, com uma empresa maior, desafios de sinergia e um parceiro poderoso dividindo decisões", diz um executivo do setor petroquímico.
Nesse sentido, nenhum desafio será mais importante que a capacidade de Gradin de conciliar os interesses da Odebrecht. com os da Petrobras. Como entrou com 70% do capital investido na compra da Quattor, a Petrobras deve ficar com algo em torno de 34% do capital votante da companhia, dependendo da fatia que couber aos minoritários ao final da operação (a projeção do mercado é que cerca de 80% desses acionistas acompanhem a oferta pública que será feita em breve). Embora continue majoritária, com 50,1% de participação, a Odebrecht terá agora um sócio com muito mais poder de decisão. A situação é delicada não apenas porque coloca lado a lado duas empresas com culturas distantes, mas sobretudo porque, além de sócia, a Petrobras tem o monopólio nacional do fornecimento de nafta, a principal matéria-prima da Braskem. Hoje, 70% da nafta consumida pela Braskem é fornecida pela Petrobras - que vende o insumo a um preço mais elevado do que o praticado por grandes produtores do Oriente Médio e da Europa. Segundo cálculos de analistas do setor, o custo de produção da Braskem é cerca de quatro vezes maior que o de seus principais concorrentes asiáticos - em grande medida por causa do custo da matéria-prima. Por isso, as aquisições recentes de empresas em países em que os insumos são mais baratos, como a recém-anunciada compra da americana Sunoco, são fundamentais para o futuro da empresa.
A força da Petrobras na nova Braskem pode ser medida também por sua participação na governança da companhia. Até agora a estatal garantiu quatro das 11 cadeiras do conselho (a Odebrecht fica com seis e os minoritários com uma) e pelo menos duas das dez diretorias. O impasse mais urgente a ser desfeito pela nova estrutura de comando diz respeito ao futuro do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), um dos principais projetos da Petrobras e xodó do governo Lula. Orçado inicialmente em 16 bilhões de reais, dos quais 6,5 bilhões teriam de ser pagos pela Braskem, o Comperj foi um dos maiores motivos de desgaste durante as negociações para a compra da Quattor. Foi tanto estresse que a Braskem e a estatal decidiram deixar a discussão dos detalhes para depois do fechamento do negócio - dos 30 representantes da Braskem que ainda trabalham nos ajustes finais do contrato, 20 se dedicam só às discussões envolvendo o Comperj.
TAL MOBILIZAÇÃO É JUSTIFICADA pela polêmica que cerca o projeto. Além de ser considerado pelas empresas privadas um investimento alto demais, o Comperj sempre foi visto com desconfiança por usar um processo de produção ainda inédito e 5% mais caro que o tradicional - razões pelas quais a Petrobras, que apresentou a primeira versão do projeto em 2006, ainda não conseguiu atrair nenhum parceiro privado. "Com o custo atual das resinas brasileiras, já não dá para disputar o mercado internacional. Encarecer o processo seria ainda mais prejudicial para a competitividade da Braskem", diz João Luiz Zuñeda, diretor da consultoria Maxiquim, especializada no setor. Para lidar com a questão, Gradin conseguiu um trunfo. A Braskem convenceu a Petrobras de que condicionaria o investimento à avaliação de uma agência internacional de risco. Se a nota do Comperj for menor que a da própria Braskem, ela poderá se negar a entrar no negócio. Além disso, a petroquímica pode forçar um adiamento das obras se conseguir comprovar que precisa, primeiro, equilibrar seu caixa. "Podemos chegar a um acordo sobre que obras devem ter prioridade e jogar com esse tempo", diz Gradin. A Petrobras, porém, tem uma expectativa bastante diferente. A estatal não vê a hora de colocar o projeto em andamento - o objetivo é produzir no Comperj 6 milhões de toneladas de produtos petroquímicos a partir de 2014. "Estamos montando uma sala de informações para a Braskem. Sei o que vão encontrar e tenho certeza de que a parceria será fechada", diz Paulo Roberto Costa, diretor de abastecimento da Petrobras. Pelo visto a palavra "tranquilidade" continuará banida do vocabulário de Gradin por algum tempo.
Os números do gigante
Os principais indicadores da empresa resultante da compra da Quattor pela Braskem
POSIÇÃO NO MERCADO: 8a maior produtora de resinas do mundo e a 1a da América Latina
FATURAMENTO: 25,8 bilhões de reais (1)
RESULTADO OPERACIONAL (EBITDA): 2,9 bilhões de reais (1)
PRODUÇÃO: 26 fábricas, com capacidade para 5,5 milhões de toneladas de resinas por ano
VALOR DOS ATIVOS: 33,5 bilhões de reais
PREJUÍZO: 584 milhões de reais (1)
COMPOSIÇÃO ACIONÁRIA (2) (CAPITAL TOTAL):
Odebrecht 34,7%
Petrobras 32,3%
BNDES 5,2%
Minoritários 27,8%
COMPOSIÇÃO ACIONÁRIA (2) (CAPITAL VOTANTE):
Odebrecht 50,1%
Petrobras 33,7%
BNDES 2,6%
Minoritários 13,5%
Fonte: Portal Exame.
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