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sexta-feira, 22 de maio de 2009

Muito Além do Balanço

Capacidade de inovação, força da marca, competência dos executivos. A partir de setembro, o BNDES vai avaliar também ativos intangíveis como esses antes de liberar empréstimos para empresas brasileiras

Ao longo de seus quase 60 anos de história, o Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) firmou-se como a principal fonte de crédito de empresas brasileiras. Em 2008, a instituição emprestou 87 bilhões de reais a companhias instaladas no país. Em setembro, porém, o tradicional sistema usado pelo banco para avaliar e decidir que empresas receberão recursos (e com qual taxa de juro) sofrerá uma profunda transformação. Em vez de se concentrar no desempenho financeiro das companhias que pedem empréstimo, o BNDES passará a levar em conta também os chamados ativos intangíveis. Assim, quesitos como a capacidade de inovação, o relacionamento com stakeholders e os riscos ambientais inerentes ao negócio responderão por pelo menos 50% do peso da avaliação que o banco fará da companhia. Num momento como o da crise atual, em que as instituições financeiras estão obcecadas por garantias reais, pode parecer paradoxal que o banco dê tanta importância ao valor intangível que há em cada empresa. Mas, para a instituição, essa é justamente uma maneira de diminuir seu risco. "A crise mostrou que a forma tradicional de avaliar empresas falhou", diz Eduardo Rath Fingerl, diretor de mercado de capitais do BNDES e idealizador do novo sistema. "Os ativos importantes para a geração de valor hoje não estão no balanço."

Desenvolvida em parceria com a Coppe, centro de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a nova metodologia vai avaliar um universo de quase 700 empresas que recebem anualmente financiamentos diretos do BNDES - em 2008, esse grupo levou 42 bilhões de reais em recursos, quase metade de tudo o que o banco emprestou. (Companhias que recebem recursos do banco por meio de outras instituições financeiras não serão submetidas a esse tipo de análise.) Até agora, o BNDES atualizava periodicamente as notas dessas empresas com base no balanço e numa avaliação qualitativa feita por técnicos de sua área de crédito. Com o novo sistema, os técnicos passarão a aplicar um extenso questionário com 80 perguntas sobre temas que vão da frequência das reuniões de diretoria sobre a estratégia seguida à qualidade dos treinamentos dados aos funcionários. Essa metodologia foi testada num grupo de 40 empresas e avaliará outras 60 nos próximos três meses, numa espécie de projeto piloto. Uma delas é a prestadora de serviços de tecnologia Totvs, que recebeu em 2008 dois empréstimos do BNDES no valor total de 360 milhões de reais. O dinheiro saiu em três meses - metade do tempo usual. "Nossa grande vantagem é a propriedade intelectual. Quando isso entrou nos cálculos do banco, o resultado foi uma velocidade muito maior na decisão de liberar os recursos", diz Laércio Cosentino, presidente da Totvs. Também estão no grupo de empresas avaliadas a fabricante de papel e celulose Suzano, que publica um relatório anual sobre intangíveis desde 2004 e é tradicional cliente do banco, e companhias como a paulista Genoa, com atuação na área de biotecnologia e faturamento de 3 milhões de reais em 2008. "A vantagem de se expor tanto é que o banco passa a ter uma visão mais objetiva de como sua empresa funciona e você tem uma chance de ser mais bem avaliado", diz Luiz Câmara Lopes, presidente da Genoa. A expectativa do mercado é que esses novos critérios afetem principalmente o custo de captação dos recursos. "Para companhias muito dependentes de fatores como capital humano e tecnologia, as taxas de juro podem cair", diz Armando Castelar, economista da Gávea Investimentos.

A iniciativa do BNDES é pioneira no mundo, mas segue uma tendência já apontada por instituições como o Banco Mundial e o Federal Reserve, banco central americano, que já estudam o peso dos ativos intangíveis. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 55% da riqueza gerada no mundo em 2002 dependia de atividades ligadas a pesquisa e inovação, e não a processos industriais. "Ao transformar essa discussão em algo prático, o BNDES está proporcionando um avanço inédito", diz o americano Jonathan Low, um dos mais reconhecidos especialistas do mundo em valores intangíveis e autor do livro Vantagem Invisível. Para o professor do Coppe Marcos Cavalcanti, que participou da criação do novo método do BNDES, a partir de agora, as empresas precisarão se adaptar a uma nova realidade. "A lógica de produzir riqueza mudou, e a de gerenciar empresas também precisa mudar. Quem já faz a gestão de intangíveis está muito mais preparado para competir daqui para a frente."


Fonte: Revista EXAME

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